"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"

11.1.18


As coisas lentas

Fumo demasiado depressa o meu cigarro apagado. Os cigarros fumam-se lentamente ao espelho fixando um único dos nossos rostos. Pois bem: na casa só nos cacos há reflexos. Os rostos suspendem-se entre nós e nós, as letras das palavras. Os rostos aguardam-se, observam-se, ao longe. E não há fumo que os evole. Talvez por isso: nunca aprendi a acender um cigarro por ser absolutamente desnecessário aprender a aprender a acender um cigarro. Na casa onde tu fumavas cada cigarro era uma letra. De cada vez que o filtro te tocava os lábios eu perguntava: como te chamas? À superfície do espelho, o teu vagar respondia-me até ao esquecimento de nós. Talvez por isso: tento acender um cigarro. Apago-o antes que me chegue aos lábios.

Está frio neste lugar. A boca abre-se como uma coisa lenta em forma de espanto.

Inês Fonseca Santos
(photo Julie London)

 ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Há demonstrações de carinho que nos imensam!"
Manoel de Barros

Demonstre seu carinho...